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A interiorização da influenza aviária

3 minutos

O ano de 2025 traz um novo panorama de ocorrências de influenza aviária de alta patogenicidade (IAAP) para o Brasil, não somente pelo primeiro foco em um estabelecimento avícola comercial, ocorrido em uma granja de matrizes de corte localizada na cidade de Montenegro (RS), mas pela “interiorização” dos focos, uma vez que, em 2023 e 2024, as ocorrências foram observadas, principalmente, na faixa litorânea, com o envolvimento de aves marinhas.

A ocorrência do foco em Montenegro demonstrou, de forma clara, a importância da revisão de acordos bilaterais entre o Brasil e países importadores de produtos avícolas. A regionalização de focos deve ser pauta obrigatória nessa revisão, pois, considerando as dimensões continentais do País e a capacidade de resposta do Serviço Veterinário Oficial (SVO), é possível isolar e controlar os focos regionalmente, evitando a suspensão de certificados sanitários que resultariam em embargos ao país inteiro ou ao estado como um todo.

Peça fundamental no atendimento às ocorrências de IAAP, o médico-veterinário, tanto da esfera estadual quanto da federal, por meio da constante capacitação, seja esta de forma prática ou teórica, e do comprometimento com a relevância de sua atuação, vem possibilitando um atendimento rápido e eficiente aos focos, o que permite não só a transparência da situação epidemiológica, o que é de suma importância para um país exportador, mas também a rápida resolução da situação de foco e o breve restabelecimento do status sanitário de livre de IAAP.

Vale também ressaltar que o SVO brasileiro sempre trabalhou na prevenção à IAAP desde a criação do Programa Nacional de Sanidade Avícola (PNSA), apenas intensificando-se as ações a partir de 2022.

Outro fator importante no rápido atendimento são as articulações interinstitucionais, além do sistema federal de notificação de suspeitas, o e-Sisbravet, que permite a rápida identificação e resposta a qualquer ocorrência suspeita de IAAP.

Ponto de importante atenção no momento é que as ocorrências de focos, neste ano corrente, deixaram de se abrigar exclusivamente na faixa litorânea, sendo os principais “vetores” aves silvestres não marinhas, como os irerês e algumas outras espécies de marrecas. Isso evidencia que existe a circulação viral também pelo interior do País, conforme demonstram os focos ocorridos em Minas Gerais, Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso e São Paulo.

Desde o final de 2022, já vínhamos alertando, em reuniões e apresentações por todo o Estado, sobre a importância de manter medidas de biosseguridade atualizadas e de observar atentamente a realidade da região onde se localiza cada estabelecimento avícola. Isso se aplica não apenas às granjas comerciais, mas também a zoológicos, parques e pequenas criações de aves. É fundamental levantar informações sobre a presença de cursos d’água com aves silvestres nas proximidades, orientar colaboradores a evitarem essas áreas e capacitar técnicos e funcionários quanto aos procedimentos a serem adotados caso uma ave silvestre seja identificada perto das instalações. A doença é transmitida, principalmente, por contato direto entre aves infectadas e sadias, ou, indiretamente, por meio de fezes, secreções respiratórias, água e equipamentos contaminados. As aves migratórias são importantes reservatórios e vetores naturais.

A IAAP causa, como sabemos, perdas significativas não somente na avicultura industrial por mortalidade, sacrifício sanitário, restrições comerciais e custos com controle, mas também em animais silvestres, com o acometimento de inúmeros mamíferos nos últimos anos, por exemplo. Além disso, algumas cepas, como H5N1 e H7N9, têm potencial zoonótico, podendo causar infecções humanas graves e até mesmo óbitos.

Dadas as características do vírus, sua distribuição global e, principalmente, a forma de transmissão, a influenza aviária continuará sendo uma ameaça relevante à avicultura, ao meio ambiente e à saúde pública global. O monitoramento e a capacitação contínua e o fortalecimento das medidas de biosseguridade são essenciais para prevenir e solucionar novos surtos.

* Os artigos publicados são de inteira responsabilidade de seus autores. As opiniões neles emitidas não exprimem, necessariamente, o ponto de vista do CRMV-SP.

Paulo Roberto Blandino de Lima Dias

Médico-veterinário graduado pela Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). É gerente do Programa Estadual de Sanidade Avícola (Pesa), da Coordenadoria de Defesa Agropecuária (CDA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo (SAA-SP).

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