Coautoria de Fernando Vargas
A influenza aviária não é uma enfermidade nova na avicultura; ela tem afetado a cadeia de produção em países como México e Egito há alguns anos. No entanto, a doença tem ganhado mais destaque na mídia especializada devido aos surtos recentes, que tiveram um forte impacto econômico em muitos países. Neste artigo, apresentaremos as informações técnicas mais relevantes sobre a doença, discutindo brevemente alguns de seus aspectos socioeconômicos.
Causada por um vírus RNA da família Orthomyxoviridae, a influenza aviária é uma doença infecciosa altamente contagiosa, afetando principalmente aves domésticas e selvagens, mas também várias espécies de mamíferos, de acordo com relatos recentes. Embora a doença, em geral, não infecte pessoas, existem casos relatados de infecção humana por esses vírus. As infecções humanas ocorreram com mais frequência após contato próximo com aves infectadas ou superfícies contaminadas, porém, consumir carne de frango cozida não oferece risco.
Esse vírus possui várias proteínas em sua estrutura, e duas se destacam por seu papel nos processos de infecção do hospedeiro: Neuraminidase (N) e Hemaglutinina (H). Existem 18 hemaglutininas e 11 neuraminidases identificadas e, de acordo com a presença dessas proteínas, os vírus são classificados em diferentes subtipos, identificados como H5N1, H9N2, H7N3 etc.
Os subtipos são classificados em duas categorias, conforme a gravidade da doença em aves: vírus da influenza aviária de baixa patogenicidade (LPAI), que geralmente causa sinais clínicos menos graves; e influenza aviária de alta patogenicidade (HPAI), que pode causar sinais clínicos graves e alta mortalidade. O vírus da influenza aviária ocorre em todo o mundo, mas diferentes subtipos podem ser mais prevalentes dependendo da região. Por exemplo, na América do Sul, os surtos mais recentes de HPAI foram causados por um vírus subtipo H5N1.
Impactos da Influenza Aviária
Os impactos econômicos da HPAI são elevados e têm um efeito cascata, pois a alta mortalidade e o abate de aves suscetíveis em granjas afetam a disponibilidade de carne e ovos, o que impacta os preços para o consumidor final. No entanto, esse impacto econômico da influenza aviária não se limita aos preços locais. A relação com o comércio internacional também é afetada, pois países que reportam HPAI em rebanhos comerciais sofrem restrições comerciais, com base nas recomendações do Código Sanitário para os Animais Terrestres da Organização Mundial de Saúde Animal (Omsa).
Controle da doença
Em um programa de controle para qualquer doença, é necessário distinguir entre o que pode ser controlado e o que não pode, devido a fatores externos. De extrema relevância para a epidemiologia da influenza aviária, as migrações anuais de aves aquáticas (fontes de infecção) são um bom exemplo de fatores sobre os quais o controle total não é possível. Afinal, não é possível impedir as migrações de aves. No entanto, é possível estabelecer programas de monitoramento para identificar quais vírus estão circulando e, assim, tentar prever possíveis surtos.
Do lado dos fatores que podem ser controlados, existe a capacidade de estabelecer ações que reduzam a possibilidade de infecção de rebanhos comerciais por aves selvagens ou domésticas, porque, para que o vírus se perpetue, uma ave precisa excretar e outra precisa ser infectada. Medidas rigorosas de biosseguridade devem ser a primeira linha de defesa contra a doença.
Na maioria dos países, a biosseguridade e o monitoramento são as únicas medidas preventivas, pois a vacinação não é permitida. Atualmente, existem vacinas inativadas e vacinas vetorizadas disponíveis no mercado, que são eficazes no controle da doença clínica e na redução da excreção viral. No entanto, a vacinação não deve ser usada como a única medida de controle e deve sempre ser implementada em conjunto com programas rigorosos de vigilância e monitoramento, que devem ser estabelecidos em ações alinhadas entre o setor privado, entidades ligadas à fauna silvestre e agências governamentais, pois envolvem questões comerciais, bem como técnicas.
A influenza aviária preocupa cada vez mais devido aos seus aspectos epidemiológicos e econômicos. Nos últimos dois anos, em muitos mercados, os numerosos casos relatados em aves, bem como em bovinos leiteiros, e o potencial zoonótico da doença tornaram a HPAI um desafio permanente, exigindo que todos os profissionais da área estejam vigilantes em suas granjas, mantendo programas de educação continuada para funcionários envolvidos e para a população em geral.
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