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Institucionalização da abordagem de Uma Só Saúde no Brasil

3 minutos

A saúde humana, animal, vegetal e ambiental estão intrinsecamente interligadas – fato reconhecido há muito tempo. Essa interconexão acarreta o risco de disseminação de doenças infecciosas, como ocorreu na pandemia de Covid-19. A preocupação global com novas pandemias, diante de seus impactos em múltiplos níveis, levou à formação de uma aliança quadripartite entre a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Organização Mundial de Saúde Animal (Omsa), a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma).

Com o objetivo de fortalecer a coordenação global no conceito de Uma Só Saúde, essas organizações estabeleceram, em 2021, o Painel de Especialistas de Alto Nível em Uma Só Saúde (OHHLEP, na sigla em inglês), com a missão de fornecer assessoria científica, política e técnica baseada em evidências.

O OHHLEP define Uma Só Saúde como uma abordagem integrada e unificada que busca equilibrar e otimizar de maneira sustentável a saúde de seres humanos, animais, plantas e ecossistemas. Essa abordagem promove a atuação multissetorial e multidisciplinar, com a participação ativa da sociedade, buscando o bem-estar coletivo e o enfrentamento das ameaças à saúde e aos ecossistemas.

Segundo a OMS, para implementar a abordagem de Uma Só Saúde é essencial consolidar estratégias como:

  • Fortalecer a governança, liderança e parcerias;
  • Aprimorar as capacidades de prevenção e preparação;
  • Promover soluções equitativas, inclusivas e sustentáveis para enfrentar desigualdades;
  • Gerar evidências por meio da integração de dados e pesquisas; e
  • Fortalecer as competências essenciais da força de trabalho dos diversos setores.

Avanços no Brasil

No Brasil, no âmbito do Ministério da Saúde, uma das iniciativas foi a criação, em 2019, do Grupo Técnico de Uma Só Saúde, vinculado à Coordenação-Geral de Vigilância das Zoonoses e Doenças de Transmissão Vetorial.

Como aprendizado trazido pela pandemia e o reconhecimento da necessidade de institucionalizar a abordagem, foi criado o Comitê Interinstitucional de Uma Só Saúde, por meio do Decreto nº 12.007, de 25 de abril de 2024.

A formação deste Comitê, coordenado pela Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente, envolveu um processo de sensibilização técnica e política sobre o conceito, resultando em um colegiado composto por 20 instituições de diversos setores, com atribuições e competências diretas ou indiretas sobre as áreas de saúde humana, animal, vegetal e ambiental.

O Comitê tem se dedicado à elaboração colaborativa do Plano de Ação Nacional de Uma Só Saúde, com a participação de diversas instituições, universidades, sociedade civil e demais setores. As linhas de ação seguem as recomendações da OHHLEP e abrangem:

  1. Reforço das capacidades de Uma Só Saúde;
  2. Redução dos riscos de epidemias e pandemias zoonóticas emergentes e reemergentes;
  3. Controle e eliminação de doenças zoonóticas endêmicas, tropicais negligenciadas e vetoriais;
  4. Fortalecimento da avaliação, gestão e comunicação dos riscos de segurança dos alimentos;
  5. Combate à emergência da resistência aos antimicrobianos;
  6. Integração do Meio Ambiente; e
  7. Participação social.

Uma integração que reforça o SUS

Os princípios de transversalidade, integração multissetorial, multidisciplinar e participação social não são novidade para o Sistema Único de Saúde. Contudo, a abordagem de Uma Só Saúde reforça essa integração ao incluir setores como agropecuária, meio ambiente, educação, entre outro ampliando a colaboração para o bem-estar coletivo e a saúde pública.

No Brasil, ações de Uma Só Saúde contam com a contribuição fundamental do médico-veterinário. Este profissional possui um conhecimento profundo sobre a interconexão entre os elos da Uma Só Saúde, a exemplo das zoonoses, segurança dos alimentos e resistência aos antimicrobianos, reconhecendo a importância da integração multidisciplinar e intersetorial para o sucesso da abordagem.

* Os artigos publicados são de inteira responsabilidade de seus autores. As opiniões neles emitidas não exprimem, necessariamente, o ponto de vista do CRMV-SP.

Ana Julia Silva e Alves

Médica-veterinária graduada pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp), campus Araçatuba. É mestre em Epidemiologia Aplicada às Zoonoses, doutora em Ciências pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ-USP) e especialista em Gestão de Risco de Emergências e Desastres em Saúde Pública pela Fundação Oswaldo Cruz (RJ). Consultora técnica, coordenadora geral de Vigilância de Zoonoses e Doenças Vetoriais, do Departamento de Doenças Transmissíveis da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente, e integrante do Grupo Técnico de Uma Só Saúde do Ministério da Saúde.
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