A febre amarela (FA) é uma doença viral aguda, imunoprevenível, transmitida por mosquitos infectados, principalmente dos gêneros Sabethes e Haemagogus, com ocorrência sazonal de casos no ciclo silvestre. O ciclo urbano, o qual era vetorizado pelo Aedes aegypti, está erradicado no Brasil desde 1942.
Causada pelo vírus Orthoflavivirus flavi (anteriormente denominado vírus da febre amarela), pertencente à família Flaviviridae, a doença se caracteriza por sintomas iniciais como febre, calafrios, dor de cabeça intensa e dores musculares. Em casos mais graves, pode evoluir para manifestações hemorrágicas e insuficiência hepática, com elevada letalidade.
A vigilância e o controle da FA devem ser realizados de maneira integrada, envolvendo:
✅Vigilância de casos humanos;
✅Vigilância entomológica;
✅Vigilância de epizootias de primatas não humanos;
✅Vigilância laboratorial;
✅Ações de imunização.
Os primatas neotropicais são, em geral, sensíveis ao vírus da FA e atuam como importantes sentinelas na detecção da circulação viral. No território paulista, destacam-se quatro gêneros de primatas: Alouatta, Sapajus, Callithrix e Callicebus. A ocorrência de óbitos desses animais constitui evento relevante e deve ser objeto de notificação compulsória, com envio de amostras para diagnóstico nos laboratórios de referência. No caso do estado de São Paulo, ao Instituto Adolfo Lutz.
É fundamental esclarecer que os primatas não transmitem a FA diretamente aos humanos; eles são vítimas do vírus e sua morte funciona como alerta para a necessidade de intensificação das medidas de prevenção na área afetada.
Em virtude da necessidade de ações integradas para o controle da FA, a abordagem da Saúde Única mostra-se a mais adequada para enfrentar esse agravo que, ainda hoje, representa ameaça à saúde pública. A Saúde Única é a estratégia transdisciplinar e integradora, que considera a saúde humana, animal e dos ecossistemas de maneira interligada e indissociável. O médico-veterinário é profissional chave nesse contexto, pois sua formação ampla permite o diálogo horizontal com as diferentes profissões da saúde e do meio ambiente.
Compreender a dinâmica viral, por meio da observação e análise das amostras de primatas neotropicais, possibilita estimar riscos para as populações humanas e animais, com planejamento e aplicação de medidas de controle, como a vacinação. No Brasil, o Ministério da Saúde recomenda a imunização contra a FA para todas as pessoas a partir dos nove meses de idade, em todo o território nacional. A vacina é segura, eficaz e, nos indivíduos com mais de quatro anos de idade, uma dose garante imunidade permanente contra a doença.
É essencial que os profissionais de saúde orientem a população sobre a importância da vacinação e desmistifiquem informações incorretas, como a ideia de que os primatas são responsáveis pela transmissão direta da doença aos humanos. Educar a comunidade sobre o papel dos primatas como sentinelas, e não como transmissores, é crucial para evitar atos de violência contra esses animais e garantir a eficácia das estratégias de vigilância.
Atualmente, uma nova epidemia de FA está em curso em São Paulo. De acordo com dados divulgados em 05 de junho de 2025, já foram confirmados 64 casos em humanos, com 35 óbitos, e 79 mortes de primatas neotropicais com diagnóstico confirmado. Os casos de primatas estão concentrados nas seguintes regiões: Barretos, Mogi das Cruzes, Franco da Rocha, Osasco, Taubaté, São José dos Campos, Ribeirão Preto e entorno e municípios na região de Campinas. Vale ressaltar que, na região próxima a Ribeirão Preto, apesar da detecção de casos de animais, as estratégias de prevenção nos humanos foram aplicadas com agilidade e não houve, até o momento, registros de casos humanos.
Em suma, a febre amarela continua sendo uma ameaça à saúde pública que exige vigilância constante, vacinação em massa e educação comunitária. No estado de São Paulo, os esforços conjuntos das autoridades de saúde, profissionais e população têm sido eficazes na redução dos casos. Contudo, a continuidade dessas estratégias é imprescindível para evitar novos surtos e proteger a saúde de todos e todas.
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